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Nelken für alle? Die Erinnerung an die Nelkenrevolution im 21. Jahrhundert
Abstracts

Abstracts

A Petrificação dos cravos e os silêncios de abril : Reconhecer, Reparar, Radicalizar a história, as memórias e os imaginários da revolução

Apolo de Carvalho (Universidade de Coimbra)

Em janeiro de 2023, na inauguração do novo Jardim da Praça do Império o Presidente, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou “a vontade de manter a tradição do império, tal como os seus antecessores”. este jardim inicialmente projetado em 1940, por ocasião da Exposição do Mundo Português em Lisboa, foi obra de propaganda do Estado Novo para projetar e cristalizar uma ideia de nação imperialista, colonialista e racista, imbuída de um discurso lusotropicalista. Se, de facto, o 25 de Abril fechou as portas ao fascismo salazarista, muitas janelas permaneceram abertas e, através delas, muitos saudosistas têm visto a oportunidade de reavivar a memória colonial e de (re) inscrevê-la no espaço público com a cumplicidade ativa das instituições do Estado. A reabilitação do Jardim da Praça do Império, num contexto de tanta luta contra o racismo e de mobilização por reparações históricas aos indizíveis crimes que foram a ESCRAVATURA e a COLONIZAÇÃO, dos quais Portugal foi pioneiro, responde aos anseios de uma velha portugalidade que se debruça esperançosa sobre as janelas deixadas abertas, ansiando pelo retorno do fascismo e do imperialismo. Nesta conversa, pretendo discutir a colonização da imaginação e do imaginário em Portugal convocando narrativas que foram silenciadas e mantidas fora de tudo aquilo que Abril pretendeu representar.

Apolo de Carvalho é doutorando do Programa Pós-Colonialismos e Cidadania Global do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e Bolseiro Fundação para a Ciência e Tecnologia(FCT). Mestre em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Mestre em Politique et Développement en Afrique e dans les Pays des Sud, pela Sciences Po Bordeaux. É licenciado em Relações Internacionais pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Membro da Afrolis-Associação Cultural, foi investigador no projeto AFROPORT.

The retornados, the Carnation Revolution and the decolonisation of the Portuguese coloniesin Africa.

Dr. Morgane Delaunay (Universidade de Lisboa)

The Carnation Revolution of 25 April 1974 marked not only the end of the dictatorial regime of the Estado Novo, but also the end of the Portuguese Empire in Africa. In this context of democratisation and decolonisation, marked by a high degree of social and political turmoil,half a million Portuguese settlers, known as retornados, arrived from Angola and Mozambique,most of whom returned to Portugal.This paper aims to analyse the opinion and the discourses of the former settlers on the Revolution as well as on the decolonisation process. Based on contemporary archived of theirarrival and retornados’ testimonies collected in 2018, this paper will present the key elementsof the repatriated population opinion on the way the decolonisation was conducted, as well as the impact it had on national politics.

Dr. Morgane Delaunay is an historian specialized in the repatriated population of Portuguesedecolonisation. She is a member of the Centre for Comparative Studies at the School of Artsand Humanities, University of Lisbon, where she is currently a post-doctoral fellow in theframework of the project “Constellations of Memory: a multidirectional study of postcolonialmigration and remembering” coordinated by Dr. Elsa Peralta.

Auf den Spuren der Nelken - Filmische Erinnerungsreise in Diana Andringas Operação Angola: Fugir para Lutar (2015)

Sophie Everson-Baltas (Universität Wien)

Bereits 2011 jährte sich ein Schlüsselereignis des antikolonialistischen, antifaschistischen Widerstandes zum fünfzigsten Mal: die Flucht von etwa 60 afrikanischen Student*innen aus Portugal über Spanien nach Frankreich und Deutschland und letztlich in ihre jeweilige Heimat, um sich den dortigen Unabhängigkeitsbewegungen anzuschließen. Unter ihnen Pedro Pires, Joaquim Chissano und viele weitere, die als zentrale Akteure und Akteurinnen den Sturz der autoritären Regierung und die Befreiung ihrer Länder vorantrieben. Ausgehend von der Notwendigkeit einer Dezentralisierung von Erinnerung und Geschichte im Zuge der kollektiven Kommemoration der Nelkenrevolution stellt der Beitrag den dokumentarischen Zweiteiler Operação Angola: Fugir para Lutar (2015) der Regisseurin und Journalistin Diana Andringa in den Fokus. Anhand der Untersuchung dieser audiovisuellen Erinnerungsreise wird diskutiert, inwiefern der Film über die Inszenierung von Gedächtnismedien und -orten sowie Prozessen des transgenerationalen Erinnerns und Gedenkens lineare, unilaterale Vergangenheitsnarrative zugunsten von Polyfonie negiert, unterschiedliche Zeitschichten verknüpft und so die Neuverhandlung von Geschichte und Gedächtnis als fundamental für Gegenwart und Zukunft postuliert.

Sophie Everson-Baltas ist Universitätsassistentin (prae doc) und Doktorandin im Bereich Portugiesisch am Institut für Romanistik der Universität Wien. Ihre Forschungsinteressen umfassen u. a.: Filme und Literaturen der portugiesischsprachigen Länder mit einem Fokus auf Portugal, Brasilien und Mosambik; Gedächtnisforschung; Audiovisual History; transmediale und -kulturelle, post- und dekoloniale Perspektiven und Theorien.

Portugueses retornados e a descolonização da memória coletiva

Bruno Góis (Universidade de Lisboa)

O fim do império colonial e a fundação da democracia portuguesa partilham o cinquentenário. Estas efemérides são paralelas a duas grandes narrativas estruturantes da identidade nacional: o país dos “Heróis do Mar”, como canta o hino nacional, cuja era dourada são os “Descobrimentos”; e o 25 de Abril de 1974 como evento fundador da democracia.

Para acomodar as duas narrativas, o 25 de Abril coloca na fatura do regime deposto todos os males das guerras de libertação de 1961-1975. Entre os livros da escola e o senso comum, a presença de portugueses em África fica, assim, numa nebulosa de aventuras marítimas com quinhentos anos. O retorno de meio milhão de portugueses das ex-colónias (1975-1979) encaixa mal nestas narrativas. Recorrendo a testemunhos sobre trajetórias de vida, esta comunicação analisa de que modo a integração da história e da memória dos portugueses retornados pode contribuir para a descolonização da memória coletiva portuguesa.

Bruno Góis é investigador do Centro de Estudos Comparatistas, integrando atualmente a equipa de investigação do projeto “Constelações de memória: um estudo multidirecional da migração e memória pós-colonial” (CEComp FL/ULisboa, ICS/ULisboa. É licenciado (2008) e mestre em Relações Internacionais (2012) pelo ISCSP, e Doutor em Antropologia com a tese intitulada “Portugueses Retornados de Angola: trajetórias e memórias com classe, género e ‘raça’” (Universidade de Lisboa, 2023). Foi um dos coordenadores do livro Retornar, Traços de Memória do Fim do Império (Edições 70, 2017) e tem realizado investigação no cruzamento entre a etnografia digital e o estudo dos portugueses retornados das ex-colónias (ex. «Connected colonial nostalgia: content and interactions of the Retornados e Refugiados de Angola Facebook group», In The Retornados from the Portuguese Colonies in Africa, org. Elsa Peralta, London and New York: Routledge, 2022).

Portugueses retornados e a descolonização da memória coletiva

PD. Dr. phil. Daniel Graziadei (Ludwig-Maximilians-Universität München)

Mein Vorschlag für einen Beitrag besteht darin, O retorno (2012) von Dulce Maria Cardoso als besonders vielschichtige Perspektive der Rückkehrer zu lesen und dabei insbesondere auf erzählte und qua Erzählung deutlich werdende Missverständnisse zu fokussieren, die kognitive und diskursive Differenzen zwischen Kolonien und Portugal aufzeigen. Schließlich erzählt in diesem, im Jahre 1975 situierten Roman, dessen erster Teil in Luanda und der zweite in Lissabon spielt, der fünfzehnjährige Rui aus der Innenperspektive von seinem Geburtsort, dem schwierigen Abschied und der mindestens ebenso komplexen wie verwirrenden Ankunft in einem umgewidmeten Fünf-Sterne-Hotel der Metropole. Dabei spielen Fremdheitserfahrungen und konfliktive Transkulturationsprozesse im klimatisch und emotional unwirschen Herkunftsland der Eltern eine zentrale Rolle. Gerade die personale Perspektive eines in der Kolonie geborenen Teenagers, der mit seiner Mutter und Schwester in Lissabon strandet, auf die Ankunft des Vaters hofft, eine psychische Verschlimmerung des Zustands der Mutter bangt und die komplexe politisch-soziale Lage am eigenen Leib zu spüren bekommt, erlaubt hier unterschiedliche Problematiken in einem Gefühlskaleidoskop zwischen verschiedenen Spielarten von Heimweh, Hoffnung, Hass, Angst und Liebe zu diskutieren. Auf prägnante Weise wird hierbei der Diskurs der revolutionären Dekolonialisierung mit dem der imperialen und kolonialen Nostalgie verhandelt und ihr Erfolg als auch Scheitern anhand des Schicksals einer Familie konkretisiert. Der Fokus auf den literarischen Einsatz von Missverständnissen ist dabei besonders produktiv, da sowohl das andauernde Missverstehen als auch die Momente der Überraschung im Offenbarwerden des Missverständnisses wertvolle Funktionen der Dekonstruktion von Paradigmen und Stereotypen inszeniert und zur Anwendung bringt. Hierbei soll auch die doppelte Bedeutung von revolução – Kreisbewegung oder plötzliche, häufig gewaltsame Veränderung – und die darin inhärente Ambiguität und das potentielle Missverstehen mitbetrachtet werden. Die kognitive Herausforderung soll entsprechend produktions- und rezeptionsästhetisch betrachtet werden. Schließlich schreibt sich Cardoso in diesem Roman erfolgreich in die Tradition einer Ethik und Ästhetik der adoleszenten Perspektive ein, die zwischen naiver Offenlegung und radikaler Hinterfragung des status quo und des modus operandi narrative Freiräume schafft und eine kognitiv-kritische Mitarbeit der Lesenden fordert.

PD. Dr. phil. Daniel Graziadei (*1981, Meran, Italien) studierte Allgemeine und Vergleichende, Englische und Spanische Literaturwissenschaften an der Ludwig-Maximilians-Universität in München. Am Institut für Romanische Philologie der LMU arbeitete er von 2009 bis 2021 als wissenschaftlicher Mitarbeiter und von 2021 bis 2024 als Vertretungsprofessor; erst für Lateinamerikanische Literatur und Fachdidaktik, dann für Spanische und Portugiesische Literatur. Er initiierte und leitet den Kurs „Kreativ schreiben!“ des Schreibzentrums LMU.Daniel übersetzt aus dem Italienischen und Spanischen und ist selbst schriftstellerisch und performativ aktiv.

50 Jahre später – Die Nelkenrevolution und die Straßennamen Lissabons: Gibt es andere Perspektiven auf den 25. April?

Joe Green (Technische Universität Chemnitz)

Mein Vortrag befasst sich mit dem Status, den die Revolution heute - 50 Jahre danach - durch die Straßennamen in Lissabon innehat. Ich analysiere das Bild, das von der Nelkenrevolution vermittelt wird: Ist beim bestehenden Gedenken Platz für ein umfassenderes Bild des Jahrestages? Die Entkolonialisierung war ein wichtiger Bestandteil der Revolutionsjahre, und 1975 wurde ein zentraler Platz in „Praça das Novas Nações“ umbenannt, um der Unabhängigkeit der ehemaligen portugiesischen Kolonien zu gedenken. Doch inwieweit waren diese „neuen Nationen“ Teil der Repräsentation des 25. April? Oder wurden diese Länder nach ihrer Unabhängigkeit nicht mehr als wichtig angesehen? 

In meinem Vortrag untersuche ich die Straßennamen des Jahres 2024 und erörtere die Darstellung des 25. Aprils 1974 – sowohl im Hinblick auf die umbenannten Straßen als auch auf die noch vorhandenen Straßennamen aus der Zeit der Diktatur. Es werden auch andere Aspekte des Widerstands einbezogen, darunter Frauen, Künstler*innen, Musiker*innen und Untergrundbewegungen.

Joe Green hat Musik. und Kulturwissenschaften in London und Lissabon studiert und promoviert gegenwärtig an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel, TU Chemnitz, zu Erinnerungskulturen im urbanen Raum Lissabons.

 

Die Subversion der nationalen Mythen im ‘pós-25 Abril’. Eduardo Lourenço liest Armando Silva Carvalhos Portuguex

Orlando Grossegesse (Universidade do Minho)

Nach Eduardo Lourenço habe das „contra-imagem de Portugal de que necessitamos para vermos tais quais somos” sogleich nach den ersten euphorischen Revolutionswochen eine womöglich unheilbare „distorção interna“ erlitten (1978: 58). Nur die “cenários gastos” des Estado Novo seien ausgewechselt, doch nichts ändere sich am Selbstbild, da die Revolution es nicht verstanden habe, das alte mythische Bild in etwas Neues zu konvertieren. Der Text “Psicanálise mítica do destino português” ist doppelt datiert: Sommer 1977 und Frühjahr 1978. Dazwischen liegen Lektüren, unter denen Eduardo Lourenço besonders Portuguex von Armando Silva Carvalho wegen seiner „acuidade“ e „originalidade“ in der „subversão da mitologia cultural lusíada“ hervorhebt (1978: 12). Er fühlt sich durch diesen romance esquizo-histórico (Untertitel) im Vorhaben bestärkt „de repensar a sério e a fundo uma realidade tão difícil de aprender como a portuguesa” (1978: 13). Indessen sucht man im aktuellen Kanon der Literaturgeschichte des ‘pós-25 Abril’ Portuguex vergeblich. Warum ist das so?

Orlando Grossegesse Studium der Romanistik und Kommunikationswissenschaft an der Ludwig-Maximilians-Universität in München (M.A. 1986; Dr.phil. 1989). Seit 1990 an der Geisteswissenschaft-lichen Fakultät der Universidade do Minho (Braga) tätig; ab 2004 als assoziierter Professor. Lehre und Forschung in Neuerer Deutscher Literatur, Lusitanistik, Komparatistik, Kultur- und Übersetzungswissenschaft, mit zahlreichen Publikationen.

Die transnationale Erinnerung an das Konzentrationslager Tarrafal als Chance eines integrativen espírito de abril im lusophonen Raum

Holger Kohler (Julius-Maximilians-Universität Würzburg)

Am 29. August 2023 unterzeichneten die Außenminister Portugals und Kap Verdes ein bilaterales Memorandum zum 50. Jahrestag des 25. April und der Unabhängigkeit Kap Verdes am 5. Juli 1975. Eine Schlüsselrolle spielt dabei die Erinnerung an das ehemalige Konzentrationslager Tarrafal (Cláusula 2.a), dessen Schließung bereits wenige Tage nach dem 25. April 1974 veranlasst wurde. Waren dort in einer ersten Phase zwischen 1936 und 1954 zuvörderst portugiesische Diktaturgegner inhaftiert, so wurden zwischen 1962 und 1974 afrikanische Unabhängigkeitskämpfer aus Angola (MPLA, UNITA, FLNA), Guinea-Bissau und Kap Verde (PAIGC) festgesetzt. Trotz der zeitlichen Distanz zwischen den beiden Lagererfahrungen bildete der gemeinsame antidiktatorische und antikoloniale Kampf gegen den Estado Novo eine nationenübergreifende Leidens- und Solidargemeinschaft, die spätestens seit dem internationalen Symposion von 2009 von den betroffenen Ländern in einem transnationalen Erinnerungsdiskurs beschworen wird. 

Mit meinem Beitrag möchte ich aufzeigen, dass die Erinnerung an das Konzentrationslager Tarrafal als Beispiel für einen integrativen espírito de abril dienen könnte, der sowohl den Beitrag des portugiesischen Widerstands als auch den des afrikanischen Unabhängigkeitskampfes würdigt und damit zum gemeinsamen Erbe Portugals und des lusophonen Afrikas erklärt.

Holger Kohler studierte Anglistik, Geschichte und Politikwissenschaft an der Universität Würzburg. Sein Studium schloss er mit einer Arbeit über den exilierten portugiesischen König Dom Miguel I. ab ("Zwischen Gunst und Hass: Eine Untersuchung über einen umstrittenen Monarchen"). Außerdem arbeitete er im Drittmittelprojekt "Merck 1668-2018 - Von der Apotheke zum Weltkonzern" an der Universität Bonn.  Im Rahmen eines vom BMBF-geförderten Forschungsprojekts an der Universität Würzburg analysiert er den Umgang des demokratischen Portugals mit der Diktatur des Estado Novo unter Berücksichtigung transnationaler Vernetzungen mit Brasilien und Kap Verde.

Os cús de Judas (1979): Reconhecimento dos soldados retornados como vítimas do processo de descolonização e dos movimentos independentistas africanos

Benjamin Meisnitzer (Universität Leipzig)

A Revolução dos Cravos abriu as portas à democracia em Portugal e pôs fim à longa e desgastante Guerra Colonial Portuguesa, possibilitando a independência das províncias ultramarinas. Uma crítica frequente aos portugueses deveu-se ao abandono repentino e caótico dos territórios, sobretudo, em África na sequência do 25 de abril e a falta de períodos de transição que tivessem permitido às ex-colónias organizarem-se a nível estrutural, político e económico. Ficaram para trás territórios explorados exaustivamente e ressentimentos por parte da população autóctone, devido à exploração e subjugação violenta e sem escrúpulos durante o regime colonial.

Mas não foi só nas províncias ultramarinas que ficaram feridas profundas, que até à atualidade custam a sarar. Os retornados muitas vezes perderam tudo aquilo que haviam construído – a obra de uma vida em muitos casos – e foram obrigados a regressar para um país que lhes era estranho. A estes juntaram-se inúmeros soldados exaustos do esforço de guerra, traumatizados, que tudo deram pela defesa das colónias e que agora voltavam como derrotados. Homens que deram tudo e que perderam tudo.

A reflexão crítica sobre a guerra colonial teimou em acontecer, tendo uma das primeiras abordagens críticas na literatura sido o romance Os cús de Judas (1979) de António Lobo Antunes. O objetivo da presente comunicação é analisar o impacto que esta obra ficcional teve na renegociação da memória e da identidade coletiva, pese embora seja da autoria de um veterano de guerra. A obra é um grito denunciador das Forças Armadas e da sua gíria, bem como do papel nefasto da Igreja Católica na Guerra Colonial, retratando as experiências, os sentimentos e, sobretudo, a revolta e o assombro interior de um soldado retornado de Angola. A trama desenvolve-se entre as imagens sangrentas e assombrosas de companheiros mortos e mutilados que assaltam a memória do narrador autodiegético e a descrição de como a guerra lhe roubou a infância e o quebrou psicologicamente.

Uma peculiaridade da abordagem reside no facto de Antunes, para além de exímio escritor, ser um dos mais conceituados psiquiatras portugueses, pelo que romance aborda a dimensão psicológica daqueles que voltaram em ruínas para Portugal e que o país desprezou, apesar do seu enorme sofrimento e das suas guerras interiores. 

A presente comunicação pretende, deste modo, abordar o lado sombrio, muitas vezes ignorado, daqueles que lutaram pela pátria e que, após a Revolução, voltaram para Portugal, mas nunca ou apenas a enorme custo voltaram a integrar a sociedade e que não receberam o apoio e os tratamentos psicológicos e psiquiátricos que teriam necessitado. Os monólogos interiores e as metáforas extensas, típicas da obra de Antunes, permitem ao leitor mergulhar nos horrores da Guerra Colonial e no tormento da alma dos seus combatentes, retratando a fragmentação da identidade dos retornados. À luz do romance, concluiremos discutindo em que medida o reconhecimento dos retornados como vítimas do processo de descolonização é compatível com o papel de destaque atribuído aos movimentos independentistas em África, questão para cuja resposta a obra Antuniana, no geral e, especialmente, Os cús de Judas, dá várias e importantes pistas.

Benjamin Meisnitzer é Professor Catedrático de Linguística Portuguesa e Espanhola da Universidade de Lípsia desde 2018. Formou-se em Literatura Portuguesa, Linguística Espanhola e Alemã nas Universidades Nova de Lisboa e Munique. Após o seu mestrado em Literatura Portuguesa, doutorou-se pela Universidade de Munique em Linguística Românica com uma tese dedicada ao presente narrativo numa perspetiva comparada. Foi professor assistente na Universidade de Munique e professor Associado na Universidade de Mogúncia. Os seus focos na investigação são a linguística de variedades, semântica temporal, mudança e variação linguística, expressão de modalidade e discursos líricos subversivos. É atualmente Decano para o Ensino na Faculdade de Filologia de Universidade de Lípsia.

Tarrafal: Filmische Erinnerungen an das Campo da morte lenta

Laura Meltke (Technische Universität Chemnitz)

Am 1. Mai 1974 wurde die Freilassung der Gefangenen des Campo do Tarrafal auf der Insel Santiagomit Jubel von der Bevölkerung begrüßt (vgl. Barros 2009: 140). Seit der Errichtung desKonzentrationslagers am 29. Oktober 1936 waren dort über 500 Menschen inhaftiert: in einer ersten Phase überwiegend portugiesische Gegner des Salazar-Regimes, ab den 1960er Jahren vermehrt afrikanische Antikolonialisten u.a. aus Angola, Guinea und Kap Verde. 37 Menschen starben im auch als ‚Campo da morte lenta‘ genannten Lager. Wegen der menschenunwürdigen Haftbedingungen und derbrutalen Folter wurde es zum Sinnbild der Repression, aber auch des Widerstandes, „porque é umterreno onde se junta a luta dos antifascistas portugueses com a luta dos anti-colonialistas ou os patriotas dos movimentos de libertação nacional“ (Rosas 2009). 2006 wurde das ehemalige Konzentrationslager zum Nationalen Kulturerbe erklärt, 2009 fand eine Umwandlung in das Museum des Widerstandes statt. Neben zahlreichen literarischen Texten wurde die Geschichte des Lagers auch in (dokumentarischen) Filmen aufgearbeitet (vgl. u.a. Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta (Andringa 2011); Há 70 anos, o Tarrafal: Os últimos sobreviventes (Paraíso 2000); Kapverdische Inseln - unabhängig (Kotanyi/Wyss/Heidrich 1976)). Besonders häufig finden dabei Formen audiovisueller Zeugenberichte Verwendung in den filmischen Arbeiten. Im Vortrag zur Tagung sollen die mnemotischen Dimensionen und Techniken einzelner Filme untersucht und erinnerungsrelevante Potenziale herausgestellt werden (vgl. u.a. Erll 2017, Ebbrecht-Hartmann 2018).

Laura Meltke ist Wissenschaftliche Mitarbeiterin an der Technischen Universität Chemnitz im Bereich der spanischen und portugiesischen Kulturwissenschaften an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel. Ihre Forschungsinteressen umfassen Migration im Film, Island Studies, postkoloniale Theorien, Urban und Mobility Studies. Ihr Dissertationssprojekt trägt den Titel: „Ausharren, Warten, Zaudern. Ästhetiken der Zeitlichkeit im Migrationsfilm atlantischer Inselräume“.

Como tratam os manuais de História (2017-2022) o 25 de abril?

Ana Lúcia da Silva Reis (Universidade Nova de Lisboa)

Nesta apresentação, pretendo partilhar parte do trabalho que tenho levado a cabo de análise dos manuais de História em vigor, no ensino público português – neste caso – no relativo às unidades temáticas que versam sobre o 25 de abril e a visão “lusocentrista” do evento histórico.Os manuais analisados estarão compreendidos entre 2017 e 2022, por serem aqueles que deveriam estar em consonância com os documentos de referência do ensino - publicados pelo XXII Governo constitucional, em julho de 2017.Os documentos de referência conhecem-se como: Perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória, Aprendizagens Essenciais e os respetivos decretos-lei e portarias, reunindo toda a informação relativa aos objetivos de ensino-aprendizagem, bem como sobre o papel da escola e de todos os agentes educativos aí convocados como elementos formadores do indivíduo-aprendente.São documentos de cariz reconceptualista, que almejam a reconstrução crítica de um discurso multiculturalista e universalista. A pergunta que coloco é se as unidades em questão obedecem às diretrizes dos documentos.

Ana Lúcia da Silva Reis, em 1981, natural da Galiza (Mafra), a viver atualmente entre Lisboa e Oviedo. Licenciatura em Língua e Cultura portuguesas (aplicada ao ensino de PLE) na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, terminando em 2003. Entre 2004 e 2014 trabalha como professora de Português Língua Estrangeira, tradutora e intérprete de conferências, em Madrid. Entre 2014 e 2019, é docente do ICLP (Instituto de Cultura e Língua Portuguesas da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa). Em maio de 2020, termina o mestrado em Português como Língua Segunda e Estrangeira, tendo defendido a tese de mestrado sobre “Escolas-piloto do PAIGC”. Em março de 2021 é aceite como bolseira na FCT, com inscrição no doutoramento em Estudos portugueses, na FCSH, passando a ser igualmente investigadora integrada do CHAM (Centro de Humanidades da FCSH). Em setembro de 2023 passa a colaborar como professora visitante na Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Oviedo, Espanha.

E o D de Descolonizar? - Representações do colonialismo português no espaço público no pós 25 de Abril

Leonor Rosas (Universidade de Lisboa)

A memorialização pública que glorificava o fascismo foi, em grande medida,eliminada do espaço público. No entanto, o mesmo não aconteceu com a memória docolonialismo. Pelo contrário, já em Democracia, novos monumentos de cariz lusotropical eimperial foram surgindo no espaço público, vindos de mão dada com novas metamorfosesdas narrativas oficiais sobre o “bom colonizador” e a empresa dos “descobrimentos”. Destemodo, constatamos que a ausência de uma verdadeira descolonização da sociedadedemocrática portuguesa está espelhada no espaço público, palco primordial da encenação dosmitos nacionais e do rebranding do velho lusotropicalismo. Nesta comunicação, propomo-nos a olhar para o espaço público como espelho das transformações ereinterpretações que a memória oficial face ao colonialismo foi sofrendo e a refletir sobre aforma como a memória da luta anticolonial e antirracista continua silenciada no espaçopúblico e, em grande medida, das narrativas oficiais sobre a democratização. Finalmente,olharemos para a forma como a inscrição desta memória anticolonial no espaço público temsido uma reivindicação ativista e como é que ela pode contribuir para uma democratização daprópria memória da Revolução e da Democracia.

Leonor Rosas é doutoranda em Antropologia no ICS-UL, onde está adesenvolver um trabalho sobre a memória colonial no espaço público nas cidades de Lisboa eBruxelas. É mestre em Antropologia pela FCSH, onde estudou a memória colonial em Lisboae as possibilidades de inscrição e uma memória anticolonial no espaço público. Desta tese demestrado, resultou a publicação do livro De quem se esqueceu Lisboa - A luta pela inscriçãoda memória anticolonial e antirracista no espaço público. É membro do projeto deinvestigação “Constelações da Memória: um estudo multidirecional da migração e memóriapós-colonial”.

Cravos sim, mas não para todos - Narrativas de memória de retornados e veteranos na literatura e no teatro

Kathrin Sartingen (Universität Wien)

O 25 de abril de 1974 trouxe a liberdade para todos, a independência para muitos e o desprezo para alguns: os retornados e os veteranos foram alvo de ódio e discriminação no decurso do processo de descolonização em Portugal. A sua encenação ficcional no teatro português contemporâneo, bem como em autobiografias (semi-)ficcionais, é o objeto do presente artigo. Estas narrativas de memória revelam novas formas de ler as relações histórico-coloniais e os seus efeitos complexos de uma forma multifacetada e contribuem para uma nova interpretação da Revolução dos Cravos. Tomando como exemplo os textos autoficcionais de Dulce Maria Cardoso (O Retorno, 2011 e Autobiografia não autorizada 2, 2023 ) e Isabela Figueiredo (Caderno de Memórias coloniais, 2009), bem como a peça Um gajo nunca mais é a mesma coisa (2021), de Rodrigo Francisco, os processos de descolonização serão analisados na perspetiva dos retornados e veteranos, tanto no que diz respeito ao seu papel (perpetradores ou antes vítimas? ) no processo de independência, bem como no que respeita à renegociação encenada das memórias. Em última análise, o objetivo é rever a historiografia portuguesa numa perspetiva decolonial, na literatura e no palco, para ver se os cravos ainda são merecidos ao cair do pano.

Kathrin Sartingen é professora de Literatura Iberoromânica, Media e Estudos Culturais no Departamento de Estudos Românicos da Universidade de Viena. Os seus focos de investigação incluem literaturas latino-americanas, africanas e ibéricas, paisagens cinematográficas e teatrais; intertextualidades, intermedialidades e interculturalidades (América Latina - África - Ibéria); temas e teorias coloniais e pós-coloniais (migração, memória, narrativas marítimas, identidades e invisibilidades, narrativas testemunhais e docuficções).

Três Cravos de uma  Revolução. Natália Correia, Maria Lurdes Pintasilgo e Dalila Pereira da Costa

Joana Serrado (Technische Universität Chemnitz)

Três pensadoras Natália Correia (1923-1993), Maria Lurdes Pintasilgo (1930- 2004)  e Dalila Pereira da Costa  (1918-2012) propuseram, distinta e simultaneamente,  uma vivência do feminino vinculada coletivo e sagrado, através de projectos-categorias como terra-mãe, mátria ou graal. Esta comunicação avaliará as formas que estes vínculos – Santos Cravos-  tomaram face às transformações políticas e conquistas feministas da Revolução dos Cravos.

Joana Serrado (1979) estudou filosofia e história das Ideias em Coimbra, Humboldt Berlin, Porto e Groningen. A sua investigação, centrando-se na democratização do labor filosófico a partir do legado de místicas e devotas premodernas, tem sido publicada na Early Modern Women Journal, Routledge, transcript-De Gruyter, e Mediaevalia, U. Coimbra, entre outras. Desde 2020 é docente na Cátedra de Estudos Ibéricos de U. Técnica de Chemnitz.

Wiriyamu: Testemunhos, Documentário e Políticas de Memória

Robert Stock (Humboldt-Universität zu Berlin)

Esta comunicação explora a negociação cinematográfica do massacre de Wiriyamu (1972), analisando três filmes documentários de Moçambique e Portugal e centrando-se em as formas como mobilizam o testemunho audiovisual: 25 (dir. José Celso Martinez Correa e Celso Luccas, 1977), Mozambique: Treatment for Traitors (dir. Ike Bertels, 1983) e Regresso a Wiriyamu (dir. Felicia Cabrita e Paulo Camacho, 1998). O testemunho audiovisual (Sarkar e Walker 2010) – de antigos soldados coloniais ou sobreviventes do massacre – ocupa um lugar importante para abordar as memórias da violência colonial nestas produções, uma vez que não existem provas fotográficas ou cinematográficas do massacre. Contudo, é preciso questionar como os testemunhos são funcionalizados para sustentar certas “políticas da história” (Eze 2010; Coelho 2013; Loff 2010) no Moçambique independente ou em Portugal. Também examinarei a obra multiperspectiva A Guerra, de Joaquim Furtado, e apresentarei uma visão do debate do historiador em torno da violência colonial para explorar as recentes repercussões do fim do império (Dhada 2013, 2017; Reis/Oliveira 2013).

Robert Stock ist Juniorprofessor für Kulturen des Wissens am Institut für Kulturwissenschaft der Humboldt-Universität zu Berlin. Nach dem Studium der Europäischen Ethnologie in Berlin und Lissabon promovierte er mit einer Arbeit über kulturelle Dekolonisierungsprozesse und Dokumentarfilme zwischen Mosambik und Portugal an der Justus-Liebig-Universität Gießen.

A questão colonial portuguesa na imprensa desportiva da RDA

Thomas Weißmann (Technische Universität Chemnitz)

Enquanto desporto mais importante do mundo, o futebol não é apenas um fenómeno de massas formador de identidades, mas também um subcampo social autónomo no qual são negociadas todas as questões políticas, culturais e económicas possíveis. O desporto, nomeadamente através dos numerosos torneios europeus de futebol, constituiu uma das poucas zonas de contacto estáveis em que se verificaram pontos de contacto regulares entre as sociedades portuguesas e a RDA, organizadas de forma muito diferente, entre os anos 1950 e 1990.  Como o excelente nível das equipas portuguesas era claramente alimentado pelas reservas aparentemente inesgotáveis do continente africano, não é de estranhar que a questão colonial portuguesa fosse também um tema recorrente na imprensa desportiva da RDA. A questão de como, sob a forma de continuidades, ruturas e segundas intenções, está no centro desta palestra.

Thomas Weißmann war wissenschaftlicher Mitarbeiter an der Professur Kultureller und Sozialer Wandel, TU Chemnitz, und promoviert dort zur Rolle des Fußballs im Estado Novo.